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O Inverno da vida

por seila, em 23.09.15

 

 O Verão acabou. Fecha a tua alma. Cerra os olhos, sente o mar, a areia e o sol.

Nada mais.

Tão perto da mente num momento inesquecível de prazer único.

Chegou o momento de deixar ir.

O sopro morno do Outono já se adivinha no caminho.

Escuta-o na duna, na falésia.

Chegará de mansinho sem que te dês conta.

E um dia os teus passos no pontão da praia param para admirar a vaga que no mar baila, brinca e se desfaz.

Bem longe no tempo, ficaram os blues que dançaste olhos nos olhos, a cumplicidade dos sorrisos, o entrelaçar de mãos, o aconchego dum ombro, o embalar dos teus braços, os pequenos seres que te olhavam suplicando carinho, protecção.

Momentos felizes.

Ah como às vezes é difícil crescer, amadurecer e apenas recordar.

O Outono já passou e o Inverno veio para não partir.

Não há tempo para memórias. Não te escondas. Não sintas medo. É tempo de um dia esperar tentar conseguir ver a luz.

 

 

 

Seilá, 23 de Setembro 2015

 

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publicado às 20:54

Lembro que doeu

por seila, em 13.01.15

 

Hoje ligaste-me. Imaginei que o farias que talvez precisasses do mimo de um desabafo.

Não, não me esqueci.

 

Lembro que doeu. Olhar-te e ver-te doeu como se um golpe me ferisse fundo, imensamente profundo.

Vi-te tão frágil que tive medo te desfizesses a qualquer momento diante de mim. Tão infinitamente só como se alguém te tivesse abandonado no deserto sem fim.

Una simples foto que alguém publicou no facebook mas de simples nada tinha.

Era a personificação completa de um ser perdido, vivendo um rumo à deriva, procurando desesperadamente a solução de um porto seguro, que lá no fundo sabia não existir, mas não conseguia admitir e sem entender a cilada que a vida lhe reservara. Pior do que tudo era o retracto vivo da humilhação, vítima da prepotência e do egocentrismo humano.

Lembro que chorei.

Lembro que me revoltei.

Lembro que desejei… eu nem confesso o que desejei e lembro que tive o impulso enorme de eliminar aquela foto. Contive-me. Nada te disse.

Lembro que duvidei de mim. Duvidei se o que via era realidade ou apenas imaginação desmedida.

 

Bastante mais tarde, quando tudo se aquietou um pouco mais, falei-te disto.

Olhaste-me com surpresa

– Tu também? – Perguntaste.

Numa voz um tanto sumida acrescentaste - Uma amiga minha disse-me o mesmo.

 

E aí eu tive a certeza que o meu coração vê, sente e nunca se engana.

 

 

Seilá, 13 de Janeiro de 2015

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publicado às 17:03

O passeio da tristeza

por seila, em 05.11.14

                                                            (Foto de Bernardo Gomes)

 

Era um dia de Fevereiro, de um Inverno que tendia a ser rigoroso.

Na família já há longo tempo empobrecida, entrava agora gente nova. Passeava junto ao rio que seguia o seu curso parecendo indiferente ao lado da pitoresca vila, Alcochete que graciosamente conservava e conjugava muito do antigo da sua traça e da sua vivência com o avanço dos tempos modernos.

Talvez afinal o rio não se sentisse tão indiferente. Talvez caminhasse mirando e admirando a margem tão povoada de história.

Mas alguém se sentia triste. Ele.

Dei comigo a pensar quantas pessoas no mundo estariam naquele preciso momento com a mesma ansiedade, com a mesma e terrível angústia.

E todos da família, já em algum dia se haviam sentido assim.

Permanecera alheado, ausente, distante dos outros e as poucas palavras que dissera, foram de circunstância, ou contidas com algum vestígio de raiva ou mágoa sincera.

A família caminhava agora no pontão que entrava rio dentro.

Havia silêncios entre cortados por pequenas conversas dispersas.

No meio, ele continuava sozinho tão profundamente acompanhado da sua dor.

O pontão terminara. Havia uns bancos de pedra. Sentou-se sombrio como que cansado, olhando a distância. Os cigarros ardiam-lhe nas mãos magras. Pegou no telemóvel e focou a vida que via. Talvez como quem queira aprisionar na lente a ilusão perdida.

O céu pintara-se de azul com manchas brancas acinzentadas e na sua benevolência deixou que tímidos raios de sol curiosos espreitassem.

A tarde avançava. O ar arrefecia.

Fez-se a família ao regresso do caminho.

Ele seguia inquieto, desajustado.

E eu seguia-o de perto talvez com esperança de saber ajudar e junto do desespero, rezava, pedindo ao pai que lhe arrancasse do peito aquela dor, mas lhe deixasse inteiro o coração.

Não fora para ser infeliz que o fizera. Nem a ele, nem a nenhum outro.

 

 

 

Seilá, 5 de Fevereiro de 2014

 

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publicado às 12:07


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