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Às vezes alguém nos dá a luz de um caminho. Foi por aí que nasceu o Por Aqui ou Por Ali. "Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido" Fernando Pessoa
(Foto de Bernardo Gomes)
Era um dia de Fevereiro, de um Inverno que tendia a ser rigoroso.
Na família já há longo tempo empobrecida, entrava agora gente nova. Passeava junto ao rio que seguia o seu curso parecendo indiferente ao lado da pitoresca vila, Alcochete que graciosamente conservava e conjugava muito do antigo da sua traça e da sua vivência com o avanço dos tempos modernos.
Talvez afinal o rio não se sentisse tão indiferente. Talvez caminhasse mirando e admirando a margem tão povoada de história.
Mas alguém se sentia triste. Ele.
Dei comigo a pensar quantas pessoas no mundo estariam naquele preciso momento com a mesma ansiedade, com a mesma e terrível angústia.
E todos da família, já em algum dia se haviam sentido assim.
Permanecera alheado, ausente, distante dos outros e as poucas palavras que dissera, foram de circunstância, ou contidas com algum vestígio de raiva ou mágoa sincera.
A família caminhava agora no pontão que entrava rio dentro.
Havia silêncios entre cortados por pequenas conversas dispersas.
No meio, ele continuava sozinho tão profundamente acompanhado da sua dor.
O pontão terminara. Havia uns bancos de pedra. Sentou-se sombrio como que cansado, olhando a distância. Os cigarros ardiam-lhe nas mãos magras. Pegou no telemóvel e focou a vida que via. Talvez como quem queira aprisionar na lente a ilusão perdida.
O céu pintara-se de azul com manchas brancas acinzentadas e na sua benevolência deixou que tímidos raios de sol curiosos espreitassem.
A tarde avançava. O ar arrefecia.
Fez-se a família ao regresso do caminho.
Ele seguia inquieto, desajustado.
E eu seguia-o de perto talvez com esperança de saber ajudar e junto do desespero, rezava, pedindo ao pai que lhe arrancasse do peito aquela dor, mas lhe deixasse inteiro o coração.
Não fora para ser infeliz que o fizera. Nem a ele, nem a nenhum outro.
Seilá, 5 de Fevereiro de 2014
(foto minha)
Deixa ir… dissolver-se nas tuas lágrimas, arrastar-se no vento, diluir-se na vida que te chama.
Apagar-se? Isso não te sei prometer, mas o sopro da tempestade há-de passar e um dia, verás que as gaivotas levantam voo rumo ao mar.
E uma nova ponte irás construir. Ao princípio será tosca? Não importa, ela crescerá numa obra perfeita.
Porque às vezes, amar não basta.
Não sofras mais por favor. Parte-se-me o coração saber que choras.
Se eu pudesse, tomaria as tuas dores em meu peito e no maior carinho seria todo teu, o meu colo. Secar-te-ia as lágrimas com as pontas dos dedos embalando-te como quando eras menino.
E quando te visse dormir vencido de cansaço eu iria rezar pedindo que tivesses sonhos de anjos.
Se eu pudesse!
Seilá, 2 de Janeiro de 2014