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O raiar de um novo dia

por seila, em 07.09.15

Quando o sono nos atraiçoa e nos abandona como um simples inimigo faria, não vale a pena lutar, sentir revolta ou querer vingança.

Melhor mesmo é deixá-lo à solta, recebê-lo num abraço e partilhar com ele um espectáculo silencioso, mas cheio de vida e promessas.

 

 

  O raiar de um novo dia.

 

O dia amanhecia.

Lindo como a ave que solta o seu primeiro voo.

Como um sopro de juventude.

Como os sonhos da adolescência.

Como a ingenuidade da infância.

A vida que nasce e se transforma em cada estágio.

Era a madrugada de um dia de Julho, numa noite de insónia.

A bola de fogo num quase redondo perfeito erguia-se das profundezas das águas do Tejo.

O olhar não despregava dela e sentia ao mesmo tempo, porque a luz também se sente, que o seu mundo perdia a escuridão.

Pareceu-lhe ouvir a voz da mãe – são horas de acordar filha, toma o teu sumo de laranja.

Para onde foste tão longe de mim, mãe? Tenho tantas saudades tuas!

Saudade é sentimento que não se apaga. Modifica-se, aceita-se mas a chama persiste num brilho suave e discreto.

Porque tempo era coisa que não lhe faltava, às vezes pensava em como tinha chegado até ali. E às vezes não o compreendia.

Mentira! Era mentira que o tempo não lhe faltasse. Cada minuto que passava, bem ou mal aproveitado, era menos tempo que impiedosamente, lhe sobrava.

Um dia, esse seu dia certo nasceria.

Perante tão belo espectáculo, era lá tempo de pensar fosse o que fosse.

O sol libertara-se finalmente das águas que o acorrentaram na noite. Rasava-as agora. Não tardaria, venceria o céu e pouco a pouco o dia cresceria.

Tão bonito e esperançoso ver um dia nascer. Tão belo e melancólico ver o sol se pôr e adormecer.

Que fazes tu à janela tão cedo?

Voltou-se e encarou a flor na jarra. Na sua cor azul com laivos de lilás desmaiado, a hortense vivia o seu apogeu. Sorriu.

Aproveitamos que ainda é cedo e vamos à praia gozar o fresco da manhã?

Sim, vamos que me apetece ver o areal vazio, sentir na pele a brisa matinal e ouvir o espreguiçar do mar.

Quando pisou a areia molhada que tanto gostava e mergulhou nas águas que subtilmente a chamavam, lembrou-se de quem um dia a recordaria amando a beleza da vida.

Nada mais pedia que apenas a recordação e que esta servisse para aliviar os descontentamentos que inevitáveis se atravessam.

 

 

Seilá, 11 de Julho de 2015.

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publicado às 01:53


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