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O que me dizem as janelas

por seila, em 21.10.15

Das janelas da minha casa vejo um tempo cinzento de pingos de chuva.
Não vejo pessoas na rua, nem os cães se passeiam.
Vejo as árvores que já se vão despindo e do seu porte exuberante de verdes folhas, despedindo.
Os castanheiros ainda novos, ah sim, porque na minha rua há castanheiros, já largaram os ouriços e as folhas que ao ritmo do vento se revolvem, tomaram a cor amarelada e castanha da terra que os alimenta.
O Rio Tejo desapareceu. Levou com ele a Vasco da Gama e com o céu se fundiu, abençoado por Deus.
Das minhas janelas não existe Serra da Arrábida. O horizonte foi forrado a papel de parede mais uma vez cinzento, sem vida, nem estética.
Com certeza quem fez o mapa enganou-se e quem a declarou Parque Natural de tamanha beleza, onde se incluem algumas zonas de vegetação mediterrânica que só é conhecida na Arrábida, por certo sonhou e o contou com uma tal convicção, que muitas vezes, a vemos, fotografamos e até nos refrescamos nas águas apetitosas que sob o vaidoso sol a banham.
Os carros passam e abrem um rasto de salpicos retirados da chuva acumulada na estrada.
Das minhas janelas olho pra dentro e vejo um sofá, um livro pousado e uma chávena de chá fumegante. Oiço sons também, a chuva que vai caindo e a música que me vai encantando.

 

Seilá, 10 de Outubro de 2015

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publicado às 23:36

Sentimentos sem rumo

por seila, em 19.10.15

 

Foi-se o dia das vaidades, coisas bonitas, que podem ser supérfluas, mas às vezes necessárias para nos emprestarem um pouco de ânimo.

Veio o dia das lembranças que nos trazem coisas boas do passado, viajamos com a saudade, tornamo-nos um pouco nostálgicos e nasce a vontade de por momentos. estarmos sós.

Inesperadamente, ou talvez não, juntamos-lhe umas gramas de ansiedade e o coração dispara com pena das ilusões perdidas.

Surge a vontade de abraçar, de acarinhar mas não sabemos como.

Que vontade de fugir, de caminhar sem destino de apanhar um outro rumo, longe, distante onde more o esquecimento.
Iluminar o túnel, beber a água das fontes, criar raízes nas pontes e um outro mundo nascer dentro do coração.

 

 

Seilá, 3 de Outubro de 2015

 

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publicado às 23:16

Eclipse Total da Lua - reportagem

por seila, em 29.09.15

Directamente dos estúdios do Laranjeiro – Rua Dr. António Elvas, a reportagem sensacional do grande evento da noite, o eclipse total da Lua.
Apesar do adiantado da hora, passavam uns minutos das 2 horas da madrugada, milhares de pessoas assistiram ao fenómeno nas suas casas dormindo, talvez sonhando.
O céu completamente limpo, exibia as estrelas brilhando e a Lua tão redonda, tão linda! O ar tão calmo e sereno que apetecia citar o poeta.
Augusto Gil dizia: “…nem uma agulha bulia na quieta melancolia dos pinheiros do caminho…”
A Lua esteve magnífica, com um desempenho fenomenal que muito possivelmente, arriscamos até a dizer, de certeza lhe valerá o Óscar da melhor interpretação feminina.
A Terra, essa beleza exótica que todos conhecemos e que tanto tem dado que falar apresentou-se no seu melhor e sem dúvida também ela conseguirá o Óscar da melhor interpretação feminina no papel secundário.
A directora de fotografia estava radiante e mesmo de pijama, não conseguiu esconder o seu entusiasmo e até alguma emoção.
Daqui dos estúdios deixamos-vos com as imagens únicas e maravilhosas que farão história, não sem antes vos dirigirmos um bem haja por assistirem.

 

 

Seilá, 28 de Setembro de 2015

 

 

 

 

 

 

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publicado às 15:01

O Inverno da vida

por seila, em 23.09.15

 

 O Verão acabou. Fecha a tua alma. Cerra os olhos, sente o mar, a areia e o sol.

Nada mais.

Tão perto da mente num momento inesquecível de prazer único.

Chegou o momento de deixar ir.

O sopro morno do Outono já se adivinha no caminho.

Escuta-o na duna, na falésia.

Chegará de mansinho sem que te dês conta.

E um dia os teus passos no pontão da praia param para admirar a vaga que no mar baila, brinca e se desfaz.

Bem longe no tempo, ficaram os blues que dançaste olhos nos olhos, a cumplicidade dos sorrisos, o entrelaçar de mãos, o aconchego dum ombro, o embalar dos teus braços, os pequenos seres que te olhavam suplicando carinho, protecção.

Momentos felizes.

Ah como às vezes é difícil crescer, amadurecer e apenas recordar.

O Outono já passou e o Inverno veio para não partir.

Não há tempo para memórias. Não te escondas. Não sintas medo. É tempo de um dia esperar tentar conseguir ver a luz.

 

 

 

Seilá, 23 de Setembro 2015

 

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publicado às 20:54

O homem na cidade

por seila, em 22.09.15

 É mais um dia que nasce.

Igual ao de ontem e a tantos outros.

Levantam-se as pessoas. Movimentam-se em gestos rotineiros. Apressam-se.

É preciso encarar a luz que o dia já começou.

A idosa ainda de robe, passeia pela trela o seu quebra solidão.

O passeio fica sujo.

Nas ruas há buracos. O semáforo que não abre… que desespero!

Os transportes cruzam-se. Um empurrãozinho e cabe sempre mais um.

Hoje não vai chover.

A avenida está bonita com os seus canteiros floridos. Lembra o arco iris. As árvores já se vestiram de verde.

Os bancos estão vazios agora. No desconforto da noite foram cama dos sem-abrigo.

Cada vez nascem mais ao invés da natalidade infantil.

Há um suspiro solto.

Os prédios fecham-se no luxo das marcas que ninguém consegue comprar.

Mas elas estão lá!

Estacionamento. Está cheio. É preciso encontrar um lugar.

As lojas abrem as portas.

Tudo funciona.

A cidade acordou.

Um café. É urgente um café. O encontro com a energia ou a força do hábito.

Nos empregos que escasseiam, apontam-se dedos, dão-se palmadinhas falsas nas costas.

No topo das empresas, desenrolam-se os negócios, nem sempre inteligentes, em cima de ordenados topo de gama.

Nos ministérios não se governa, inventa-se a melhor forma de extorquir um pouco mais.

Na Assembleia da República, discute-se, há acusações que nunca se provam e insultos “civilizados”. No final, tudo fica na mesma. Amanhã será um dia igual.

Que pena! É um edifício tão bonito. Deveria transpirar dignidade.

E a polícia guarda-a dos intrusos, como se não devesse ser pertença de todos.

O relógio faz as horas passarem.

E de tudo quanto é edifício laboral saem pessoas em grupos, sozinhas.

Os restaurantes, as pastelarias, as casas de fast food, acolhem os visitantes numa hora de azáfama intensa. Um garoto toca no braço de um senhor e pede-lhe uma sandes. O empregado apressa-se a pô-lo fora.

Por fim as casas de pasto esvaziam-se e as formiguinhas recolhem aos buracos de onde saíram, silenciando-se.

É outra parte do dia que se inicia. A tarde e a ansiedade de finalmente chegar o tempo da liberdade.

E tudo recomeça no sentido inverso.

A cidade fervilha durante horas impacientes.

Nos arredores da cidade vão-se gradualmente acendendo as luzes das casas.

É preciso fazer o jantar, dar banho às crianças, dar-lhes um pouco de atenção brincando ou ajudá-las nos deveres da escola.

Lá fora escureceu. Chegou a hora de um pouco de liberdade assente no sofá.

Traduz-se nisso a liberdade?

Nas ruas, o trânsito já escasseia.

Aqui e ali as luzes nas casas começam a esconder-se.

A noite instalou-se.

A cidade adormeceu.

 

Seilá, 23 de Maio de 2015 

 

 

https://youtu.be/lbSOLBMUvIE 

 

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publicado às 16:58

O raiar de um novo dia

por seila, em 07.09.15

Quando o sono nos atraiçoa e nos abandona como um simples inimigo faria, não vale a pena lutar, sentir revolta ou querer vingança.

Melhor mesmo é deixá-lo à solta, recebê-lo num abraço e partilhar com ele um espectáculo silencioso, mas cheio de vida e promessas.

 

 

  O raiar de um novo dia.

 

O dia amanhecia.

Lindo como a ave que solta o seu primeiro voo.

Como um sopro de juventude.

Como os sonhos da adolescência.

Como a ingenuidade da infância.

A vida que nasce e se transforma em cada estágio.

Era a madrugada de um dia de Julho, numa noite de insónia.

A bola de fogo num quase redondo perfeito erguia-se das profundezas das águas do Tejo.

O olhar não despregava dela e sentia ao mesmo tempo, porque a luz também se sente, que o seu mundo perdia a escuridão.

Pareceu-lhe ouvir a voz da mãe – são horas de acordar filha, toma o teu sumo de laranja.

Para onde foste tão longe de mim, mãe? Tenho tantas saudades tuas!

Saudade é sentimento que não se apaga. Modifica-se, aceita-se mas a chama persiste num brilho suave e discreto.

Porque tempo era coisa que não lhe faltava, às vezes pensava em como tinha chegado até ali. E às vezes não o compreendia.

Mentira! Era mentira que o tempo não lhe faltasse. Cada minuto que passava, bem ou mal aproveitado, era menos tempo que impiedosamente, lhe sobrava.

Um dia, esse seu dia certo nasceria.

Perante tão belo espectáculo, era lá tempo de pensar fosse o que fosse.

O sol libertara-se finalmente das águas que o acorrentaram na noite. Rasava-as agora. Não tardaria, venceria o céu e pouco a pouco o dia cresceria.

Tão bonito e esperançoso ver um dia nascer. Tão belo e melancólico ver o sol se pôr e adormecer.

Que fazes tu à janela tão cedo?

Voltou-se e encarou a flor na jarra. Na sua cor azul com laivos de lilás desmaiado, a hortense vivia o seu apogeu. Sorriu.

Aproveitamos que ainda é cedo e vamos à praia gozar o fresco da manhã?

Sim, vamos que me apetece ver o areal vazio, sentir na pele a brisa matinal e ouvir o espreguiçar do mar.

Quando pisou a areia molhada que tanto gostava e mergulhou nas águas que subtilmente a chamavam, lembrou-se de quem um dia a recordaria amando a beleza da vida.

Nada mais pedia que apenas a recordação e que esta servisse para aliviar os descontentamentos que inevitáveis se atravessam.

 

 

Seilá, 11 de Julho de 2015.

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publicado às 01:53

Talvez

por seila, em 04.09.15

 

 Ela tinha um sonho.

Quem lho dera?

Talvez alguém a seus pés tivesse pensado.

Pensado em voz alta.

Talvez tivesse contado da filosofia da gaivota, uma gaivota de nome Fernão Capelo Gaivota.

Talvez sim.

Ela tinha um sonho desde que nascera.

De onde lhe vinha?

Do poder mágico de crescer e aprender.

E sempre que crescia achava pouco, queria mais, muito mais.

Talvez quisesse demasiado.

Sabia disso?

Ela apenas sabia do seu sonho.

Crescer, crescer sempre, crescer tanto que um dia o seu ramo mais alto tocaria o azul do céu.

Saberia ela o que era o azul do céu?

Talvez não. Decerto ainda não aprendera.

E todos os dias despendia um esforço enorme concentrado apenas em crescer mais e mais.

Seria o seu empenho recompensado?

Talvez não ou talvez sim.

Talvez dependesse dessa ânsia de crescer.

Talvez o crescimento lhe desse o conhecimento.

A perspectiva da sua raiz agarrada à terra onde nascera incentivava-a. E pedia ao seu braço mais alto, só mais um pouquinho. Estás quase lá. Falta só um nada.

E nada é tudo!

E o tempo passava morno e gentil.

Lá do cimo do seu alto poleiro, a estrela que nos aquece e ilumina, observava.

Primeiro com alguma indignação por tamanha e petulante pretensão.

Seria possível, tanta vaidade?

Talvez não.

Afinal o que observava a estrela?

Estaria a dar a devida atenção?

Talvez não.

Usou o benefício da dúvida, chamou a tolerância e achou que julgara precipitadamente.

Não seria decerto vaidade.

Talvez fosse apenas imaginação.

Imaginação infantil que tudo pode nos sonhos da vida que cresce.

Imaginação que a seu tempo se vai transformando num realismo profundo, às vezes tão falho de sonho.

Seria o sonho condenável?

Haveria quem o culpasse?

Talvez sim, ou talvez não.

De uma coisa a estrela tinha certeza.

O sonho que ela sonhava nunca seria a sua realidade.

Depois de tanto observar e tanto conjecturar, achou a estrela que era tempo do sonho acabar.

Assim? Sem nada restar? Sem nada para recordar?

O que há de belo num sonho se não serviu para aprender a amar?

O amor que se aprende sem saber como, que se dá porque se tem, que se vive porque é amor.

A noite foi embora e foi aí no amanhecer que a estrela quis compensar aquele sonho impossível.

No resplandecer da aurora ela que crescera a sonhar tocar o azul do céu, viu-se coberta de pequenas flores brancas, lindas como nunca tinha visto nada. Amou-as como nunca tinha amado nada. Protegeu-as como se fossem a sua vida. Exibiu-as como se fossem pérolas para que fossem admiradas.

Recordou o seu sonho. Nunca o esqueceria nem toda a beleza que o envolveu, mas entendeu.

Percebeu que na vida há um tempo para tudo.

Crescera, tinha que deixar ir o tempo dos sonhos.

Agora era tempo de cuidar e soube que cuidar é amar e que nada faz sentido se o Amor não acontece.

 

 

Seilá, 23 de Maio de 2015

 

 Be

 

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publicado às 01:55

Ilusão do tempo.

por seila, em 27.08.15

 

Todos acabamos por ser a "folha tombada do tempo.".
A ilusão da morte existe porque nela, felizmente, não pensamos em grande parte da nossa vida.

 

 

Seilá, 27 de Agosto de 2015

 

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publicado às 21:42

A história de um ET

por seila, em 24.08.15

 

 

Vou contar um segredo... não é bem um segredo, é mais um acontecimento insólito, inesperado, raro, irreal e um pouco assustador.

 

Ontem eu tive um encontro imediato do 3º grau.
A sério! Não estou a brincar, até tirei fotografia, só tenho pena de não ter uma boa máquina que captasse o que via, mas mostro mesmo assim.

 

Era já noite. O céu estava nublado escondendo a Lua e as estrelas.
Por baixo das nuvens, a uma "pequena" distância da terra, uma formação de feixes de luzes distribuídas em redondo, moviam-se em movimentos circulares, seis voltas para a direita e de seguida invertiam o sentido as mesmas seis voltas. Enquanto observei o fenómeno, deslocou-se lentamente mais para junto do meu prédio e por ali ficou até quando não sei, porque entretanto achei melhor correr o estore, antes que algum ET me entrasse pela janela.

 

O que foi não sei mas em boa verdade vos digo que até fizeram um clone de mim e me enviaram a foto por mail, sim, porque vos garanto, esta não sou eu.

 

 

 Seilá, 23 de Agosto de 2015

 

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publicado às 21:22

Verdades do Mundo

por seila, em 06.08.15

 

Subi os altos degraus esculpidos em pedra, gastos pelos passos e pelo tempo da escada secular que conduzia ao cimo do pedaço da muralha da cidade, ainda resistente ao passar de longos anos.
Deslumbrei-me com a paisagem em redor. Tudo era apenas natureza, beleza, silêncio calmo.
Lá em baixo deslizava tranquilo o rio. Mais parecia adormecido embalado no abraço morno das montanhas rochosas aquecidas pelo sol de Julho que lhe desenhavam e amparavam o leito.
À memória chegavam ecos dos milénios de história.
De olhos fixos nas calmas águas, um convite de frescura, entendi.
Infinitamente antes da existência dos degraus que subira, do resto da muralha onde prendera meus pés, existia o rio, cumprindo a sua história, encaminhando as águas ao seu destino certo.
E apesar disso, aquelas águas que passavam, nunca eram as mesmas.
Quantas verdades absolutas nosso mundo guarda, verdades que nem sempre absorvemos.

 

 

Seilá, 29 de Julho de 2015

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publicado às 19:29


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