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Talvez

por seila, em 04.09.15

 

 Ela tinha um sonho.

Quem lho dera?

Talvez alguém a seus pés tivesse pensado.

Pensado em voz alta.

Talvez tivesse contado da filosofia da gaivota, uma gaivota de nome Fernão Capelo Gaivota.

Talvez sim.

Ela tinha um sonho desde que nascera.

De onde lhe vinha?

Do poder mágico de crescer e aprender.

E sempre que crescia achava pouco, queria mais, muito mais.

Talvez quisesse demasiado.

Sabia disso?

Ela apenas sabia do seu sonho.

Crescer, crescer sempre, crescer tanto que um dia o seu ramo mais alto tocaria o azul do céu.

Saberia ela o que era o azul do céu?

Talvez não. Decerto ainda não aprendera.

E todos os dias despendia um esforço enorme concentrado apenas em crescer mais e mais.

Seria o seu empenho recompensado?

Talvez não ou talvez sim.

Talvez dependesse dessa ânsia de crescer.

Talvez o crescimento lhe desse o conhecimento.

A perspectiva da sua raiz agarrada à terra onde nascera incentivava-a. E pedia ao seu braço mais alto, só mais um pouquinho. Estás quase lá. Falta só um nada.

E nada é tudo!

E o tempo passava morno e gentil.

Lá do cimo do seu alto poleiro, a estrela que nos aquece e ilumina, observava.

Primeiro com alguma indignação por tamanha e petulante pretensão.

Seria possível, tanta vaidade?

Talvez não.

Afinal o que observava a estrela?

Estaria a dar a devida atenção?

Talvez não.

Usou o benefício da dúvida, chamou a tolerância e achou que julgara precipitadamente.

Não seria decerto vaidade.

Talvez fosse apenas imaginação.

Imaginação infantil que tudo pode nos sonhos da vida que cresce.

Imaginação que a seu tempo se vai transformando num realismo profundo, às vezes tão falho de sonho.

Seria o sonho condenável?

Haveria quem o culpasse?

Talvez sim, ou talvez não.

De uma coisa a estrela tinha certeza.

O sonho que ela sonhava nunca seria a sua realidade.

Depois de tanto observar e tanto conjecturar, achou a estrela que era tempo do sonho acabar.

Assim? Sem nada restar? Sem nada para recordar?

O que há de belo num sonho se não serviu para aprender a amar?

O amor que se aprende sem saber como, que se dá porque se tem, que se vive porque é amor.

A noite foi embora e foi aí no amanhecer que a estrela quis compensar aquele sonho impossível.

No resplandecer da aurora ela que crescera a sonhar tocar o azul do céu, viu-se coberta de pequenas flores brancas, lindas como nunca tinha visto nada. Amou-as como nunca tinha amado nada. Protegeu-as como se fossem a sua vida. Exibiu-as como se fossem pérolas para que fossem admiradas.

Recordou o seu sonho. Nunca o esqueceria nem toda a beleza que o envolveu, mas entendeu.

Percebeu que na vida há um tempo para tudo.

Crescera, tinha que deixar ir o tempo dos sonhos.

Agora era tempo de cuidar e soube que cuidar é amar e que nada faz sentido se o Amor não acontece.

 

 

Seilá, 23 de Maio de 2015

 

 Be

 

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publicado às 01:55



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